sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Psicologia da Criança para Adultos - Ser Educador Hoje

Psicologia da Criança para Adultos - Ser Educador Hoje
As mudanças de comportamento, de costumes, de cultura e hábitus sociais nunca sofreram tanta alteração significativa em pouco tempo como têm sofrido nos últimos anos. O volume de modificações tem sido tão grande que a sociedade dos adultos não tem conseguido se adequar ao ritmo dessas transformações: é tudo muito volátil, instável, inclusive as relações educativas humanas. As descobertas científicas em diferentes áreas do conhecimento, aliadas aos procedimentos da inserção dos indivíduos na sociedade, têm forçado profissionais da área de educação questionarem suas práticas quanto à tarefa de educar uma pessoa nos dias de hoje face às instabilidades.



Não tenho clareza sobre os efeitos dos diferentes métodos educativos de outras épocas. Isto interessa pouco nesta reflexão de hoje, pois a impressão que se tem é que a escola visa um ideal de outrora com a normatização de comportamentos e de resultados que não se adequam às competências dos alunos nem a seus comportamentos de hoje; ao passo que aqueles que buscam a escola ou que estão na escola - tanto a criança quanto o adolescente - têm outros objetivos, às vezes, opostos ao que propõem na escola. Na minha opinião, há uma decalagem fundamental nos modelos educativos contemporâneos : métodos, causas e efeitos fora do tempo e do espaço. Devido a este fator é possível constatar índices significativos de fracasso escolar, de baixo rendimento na escola... e quiçá, a violência encontrada no seio da escola não seja fruto dessa decalagem. O que se pode afirmar sobre o tema é que educar uma criança ou um adolescente hoje é uma árdua tarefa, principalmente quando estamos em condições desfavoráveis para sua execução.



Ser educador hoje é, na verdade, uma tarefa impossível : há confusão dos ideais da criança ou do adolescente com os ideais dos pais e com aquilo que a sociedade constituiu como um ideal para cada criança que vai para a escola. O que nos alivia é o fato de sabermos que a catástrofe no campo educacional é global. A pergunta que podemos fazer sobre isto é : será que sempre foi assim e que apenas nos últimos tempos, com a ênfase apresentada pela mídia quanto aos rendimentos e resultados escolares, o problema ganhou esta dimensão?



A violência, o desrespeito às coisas básicas das relações humanas têm dado o tom da difícil tarefa de educar uma criança e um adolescente. As mudanças sociais desses últimos anos no que se refere a educação de uma pessoa se apresentam como se fosse uma degeneração das relações humanas. Se não for verdadeira esta afirmativa, pelo menos ela merece um estudo mais aprofundado para esclarecer a falência da modernidade. Mas por que nós adultos não conseguimos reproduzir o que aprendemos de nossos pais, no que se refere à educação sobre nossos filhos, nossas crianças e adolescentes ? O que constatamos na verdade é que o autoritarismo da educação recebida em gerações passadas tem dado lugar a uma liberdade incondicional nos diferentes processos educacionais. Será que este é um mecanismo de compensação? Que elo é possível fazer entre a educação recebida e esta que aplicamos ?



Pode não parecer, mas a cada dia que passa fico mais convicto de que as mudanças dos tipos de núcleos familiares têm uma influência direta sobre as dificuldades que a sociedade tem encontrado no processo educativo de nossas crianças e adolescentes. Não quero dizer com isto que tenho posição contrária a esses movimentos sociais, pois a minha inquietação é com a volatilidade das relações humanas : tudo é muito instável quando se trata de relações humanas.



Ora, é nesta perspectiva que se sustenta a minha postura, porque crianças e adolescentes criados em situações de instabilidade afetiva, social e econômica são mais propícios às manifestações de desajustes sociais adequando-se muito pouco aos processos educativos e às regras sociais.



Quando me refiro às relações humanas como voláteis, quero dizer que « não se confia mais em uma pessoa adulta hoje como se confiava em tempos passados » (isto é um dito popular) ; o caráter de um adulto podia ser visto nas suas palavras. Há, anexo a este fenômeno, um distanciamento entre o que é a natureza humana e suas necessidades com aquilo que se apresenta - e às vezes se impõe - como um ideal a ser cultivado pela natureza social e suas pseudonecessidades. Talvez seja pretensão da minha parte querer afirmar que a sociedade está confundindo o que é necessidade humana daquilo que é uma pseudonecessidade social, sendo que, na verdade, é uma falsa necessidade. A controvérsia expressa aqui é que, atirados pelas armadilhas dos produtos de natureza social crianças e adolescentes não têm se fixado nas suas necessidades humanas básicas.



Guiados por essas necessidades sociais emergentes adolescentes e crianças se desprendem, às vezes, das necessidades básicas do ser humano, substituindo valores e colocando na frente ideais que corrompem a natureza humana. Em algumas situações a agressividade e a violência, em outras o desrespeito a regras básicas de convivência estão na frente nos seus ideais, o que dificulta qualquer tentativa racional de educação.



Frente ao exposto, sou conduzido a afirmar que não existem formações escolares para algumas funções sociais assumidas pelo adulto. Por exemplo, formar um Homem para ser um bom Pai ou uma boa Mãe, para ser um bom Educador ou um bom Professor são tarefas de difícil concretização. Ser educador hoje, nesta sociedade de transição, não é uma tarefa fácil, contudo o impossível parece ser remediável: temos que adequar a educação de nossas crianças às realidades dos dias atuais sem menosprezar nossa e suas histórias. Enfim, todo processo educativo visa o desenvolvimento das mais elevadas competências da natureza humana. Tenta despertar a sabedoria, a ética e o respeito aos demais membros da sociedade visando sempre a coletividade frente as "mudanças emergentes".



Francisco Moura

Professor de Psicologia da Universidade Federal de Ouro Preto

Reportagem postada pela aluna Danielle Floro Simões - RA: 590224 -0 aluna do curso de Pedagogia do Noturno da Unip Campinas 2º Semestre.

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